Ao completar 92 anos, em 2012, a Pitney Bowes Inc. decidiu se “reinventar”. Para colocar em prática as mudanças que pretendia fazer e se adaptar aos novos tempos, convidou Marc Lautenbach, veterano da IBM, para assumir a direção da companhia e conduzir todo o processo de reestruturação.
 
Dois anos depois, exibe resultados surpreendentes: suas ações subiram 60%; a empresa vem cortando custos, aumentando o fluxo de caixa e liquidando as dívidas; os negócios postais continuam rentáveis - apesar da queda no volume de correspondências enviadas por correio, por conta do uso da Internet; a receita está crescendo nos negócios não postais da empresa, que também oferece serviços de alta tecnologia, tais como identificação e localização para usuários de mídias sociais; e o novo segmento de soluções para comércio digital cresceu 27%.
 
“Nosso desempenho durante os seis primeiros meses do ano continua ratificando a estratégia que detalhamos 15 meses atrás, e valida, ainda mais, nosso modelo econômico de longo prazo. Continuamos à frente do cronograma na nossa jornada multianual para transformar a Pitney Bowes, e estamos confiantes em nossa capacidade de atingir nossos objetivos. Como resultado, estamos aumentando nossa meta de 2014, tanto para faturamento quanto para lucro ajustado por ação”, disse Skip Yakopec, Vice-Presidente Sênior de Vendas das Américas Soluções de Software, da Pitney Bowes, que, recentemente, esteve no país.
 
A Pitney Bowes está no ramo de máquinas de franquear desde 1920. Atualmente, a empresa divide seus serviços postais em três segmentos. Um deles é o Segmento para Pequenas e Médias Empresas (PME), que oferece equipamento de postagem, financiamento, serviços e suprimentos para correspondência e franqueamento. O outro, chamado de Segmento de Soluções para Negócios Empresariais, é voltado a grandes clientes e fornece equipamento de correspondência e serviço de separação e classificação de grandes volumes de correspondência, para desconto de compartilhamento de volume postal. O terceiro, denominado Segmento de Soluções em Comércio Digital, foi criado durante o processo de reestruturação da empresa e inclui soluções em software, marketing, intercâmbio de documentos digitais, remessa e e-commerce.
 
Na nova função, o objetivo de Lautenbach tem sido estabilizar o legado comercial da empresa e, ao mesmo tempo, alavancar os negócios nos canais digitais e móveis, onde, aposta ele, a empresa deve – e pretende - crescer significativamente nos próximos anos. Para isso, o executivo atacou em várias frentes. Uma delas foi modernizar o processo de venda no segmento PME, fazendo com que os vendedores passassem a utilizar mais ligações telefônicas com interações pela Internet no lugar das visitas pessoais. A medida cortou custos e melhorou o atendimento, que passou a ser mais frequente.
 
Outro problema enfrentado nessa área foi a súbita e aguda perda nos negócios por conta da crise financeira global. Os clientes financeiros, em particular, decidiram reportar os resultados gradualmente, sendo que muitos dos negócios da Pitney Bowes são feitos com contratos de leasing e contratos de serviços multianuais. Tais perdas foram expurgadas dos resultados e, depois de um longo período de declínio, as receitas estão começando a se estabilizar. No último trimestre, a receita oriunda de pequenos e médios negócios caiu 1%, enquanto a da empresa subiu 1%. Em outras palavras, os negócios postais da Pitney Bowes estão, aos poucos, deixando de ser um passivo e se tornando um fluxo anual.
 
 
Lautenbach também promoveu mudanças na área financeira da companhia. A Pitney Bowes trabalhava com 37 sistemas diferentes de faturamento e girava o inventário muito lentamente. O executivo prometeu uma economia anual entre US$ 100 milhões e US$ 125 milhões até 2015, e já conseguiu cumprir US$ 70 milhões. Para o período de 2015 a 2017, ele prevê uma economia adicional no mesmo montante. A empresa também reduziu o pagamento de dividendos pela metade, no último ano.
 
Por fim, Lautenbach criou o segmento de Soluções em Comércio Digital. A Pitney Bowes possuía dezenas de pequenas operações. O executivo selecionou algumas delas para formar essa divisão dentro da empresa. Cerca de metade dos negócios da nova área são ligados a software – uma das poucas fontes de lucro que podem fazer frente às máquinas de postagem. Nesta área, a Pitney Bowes já atende dois grandes clientes, com atuação global: o eBay, cuja solução fornecida pela companhia permite vendas mundiais, sem o incômodo de ter de conhecer as diferentes taxas e regras alfandegárias; e o Facebook, que utiliza um sistema de identificação e localização inteligente.
 
Com essas medidas, os negócios de postagem da Pitney Bowes estão estabilizados e os negócios digitais estão crescendo. A companhia deve alcançar, este ano, um faturamento de US$ 3,9 bilhões. A previsão é de que os ganhos aumentem 60% em três anos, empurrando as ações dos atuais US$ 26 para US$ 42. O lucro por ação, de US$ 1.88 no último ano, pode subir para US$ 3 até 2017, em uma combinação de economia de custo, crescimento dos lucros no setor digital e estabilização dos negócios postais. "As pessoas dizem que a Pitney Bowes enfrenta uma ruptura tecnológica. E quem não enfrenta? Mas, esta empresa possui a capacidade de se reinventar", ressalta Skip.
 
Recentemente, a Pitney Bowes divulgou seus resultados financeiros referentes ao segundo trimestre de 2014. Foi registrado um faturamento de US$ 958 milhões, o que representou um crescimento de pouco mais de 2% comparado ao primeiro trimestre. A receita do período se beneficiou do crescimento de 27% no segmento de Soluções para Comércio Digital, que registrou um ganho de US$ 211 milhões. A receita no segmento de Soluções para Pequenas e Médias Empresas (PME) foi de US$ 524 milhões. O segmento de Soluções de Negócios Empresariais, por sua vez, contabilizou US$ 223 milhões.
 
“Estamos satisfeitos com os resultados financeiros do segundo trimestre, que são consistentes com a nossa direção estratégica de longo prazo,” comenta Yakopec, acrescentando: “Nossos negócios em Comércio Digital se saíram muito bem, atingindo 27% de crescimento na receita, ao mesmo tempo em que a rentabilidade no nosso principal negócio postal continua a crescer”.
 
A aposta no Brasil
 
O Brasil é uma área-chave para o crescimento da Pitney Bowes, inclusive na América Latina. A aposta no mercado brasileiro – cuja operação vem crescendo dois dígitos anuais: em 2012, atingiu 60% e, em 2013, 13% - foi concretizada em fevereiro deste ano, quando a companhia anunciou a aquisição da participação da Semco Partners (antigo Grupo Semco) na operação brasileira, assumindo 100% do capital da empresa no país. A joint venture havia sido criada em 2005, com 70% do capital pertencente a Pitney Bowes e 30% a Semco, com o objetivo de trazer para o Brasil produtos, soluções e serviços para automação de processos de correspondências e gerenciamento de informações. Outra medida que fortaleceu a operação brasileira foi a transferência do comando da Divisão de Software para a região da América Latina, de Miami para o Brasil.    
 
“Acreditamos que o Brasil é um mercado muito promissor para o futuro, especialmente porque está passando por um crescimento potencial, com o aumento e o desenvolvimento das grandes corporações brasileiras. Graças aos investimentos massivos que estão sendo feitos na região, juntamente com as soluções que a Pitney Bowes oferece, acreditamos que podemos fazer um bom trabalho aqui”, esclarece Skip.
 
No Brasil, a Pitney Bowes ainda é mais conhecida por seu maior cliente, os Correios, que entregam 8,5 bilhões de correspondências por ano. Segundo Yakopec, a Pitney Bowes é uma empresa que preserva o seu legado na área em que sempre atuou e continuará atuando, mas, destaca, está passando por uma grande transformação, cujo um dos objetivos é atuar, também, no novo mundo do comércio digital.
 
“Somos mais conhecidos por causa dos Correios, o que é positivo para nossa reputação, somos vistos como uma empresa confiável; mas queremos ser conhecidos, também, pelas outras funções que desempenhamos e por outros serviços que oferecemos, como por exemplo, o mundo digital. Os clientes sabem que trabalhamos com os Correios, mas não sabem o tanto que podemos fazer por eles, pelos clientes deles, oferecendo várias estratégias digitais. Que fique bem pontuado que a Pitney Bowes é uma empresa que, além do reconhecimento do trabalho anterior, está aí para ajudar no comércio eletrônico e fazer tão bem no mundo digital o que já fez no físico, para que os clientes possam se beneficiar das novas soluções digitais, como a mídia social, Big Data, geolocalização e mobilidade”, ressalta o executivo.
 
Dentro da reestruturação feita pela empresa, uma das diretrizes principais foi a nova estratégia definida para as soluções de software, que tem como ponto central a especialização em tudo o que a empresa faz com relação aos clientes. No segmento de software, a Pitney Bowes quer competir em três mercados: gerenciamento de relacionamento com os clientes, gestão de informação e inteligência, e localização inteligente. Cada um deles, segundo Yakopec, vale US$ 5 bilhões, e a expectativa da companhia é crescer entre 12% e 15%, nos próximos cinco anos, no cenário mundial.
 
Para atingir essas metas, a empresa montou equipes de colaboradores especializados nos diferentes segmentos que atende. “Alguém que trabalha na equipe especialista em produto tem de entender não só do nosso produto, claro, mas saber o que a concorrência oferece e o que o mercado está buscando. Dessa forma conseguimos atacar bem todos os setores”, explica.  
 
Mas o investimento no setor, que cresceu 30% no segundo trimestre deste ano, é bem maior e não para por aí, comenta Yakopec. A Pitney Bowes investe muito nos seus profissionais. A empresa tem como tradição enfatizar a herança de talentos, de pessoas que tenham as habilidades certas para atender as funções atribuídas a elas. “Nos últimos tempos, contratamos mais de 100 pessoas para a área de software, em âmbito mundial; pessoas realmente capacitadas porque a ideia é, além das soluções e dos “talentos” profissionais, termos uma organização de consultoria estratégica mundial  que preste serviços para todos os nossos clientes, implementando e capacitando, do ponto de vista tecnológico, as suas ferramentas. Aqui, em São Paulo, também estamos aumentando os nossos recursos ”, diz o executivo.
 
No Brasil, um setor alvo da empresa na área de software é o mercado financeiro. A Pitney Bowes pretende ter uma atuação bastante ativa nesta vertical e, para isso, criou uma consultoria estratégica para buscar no mercado profissionais experts na área financeira. A companhia também quer estabelecer alianças estratégicas que ajudarão a conquistar mais clientes, a implementar as soluções certas para cada um e a reter esses clientes. “Temos vários serviços e tecnologias que atendem o setor financeiro, como geolocalização, análise de dados, entre outras. O mais importante é saber quem são os nossos clientes e onde eles estão. Trabalhamos muito para reduzir os riscos dos nossos clientes da área financeira, principalmente diante das exigências regulatórias, que são cada vez mais constantes, da lavagem de dinheiro, padronização de processos, etc”, diz o vice-presidente.