O Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica 2021 teve seu terceiro dia iniciado com o presidente da ABFLEXO Miguel Troccoli e o gerente de relacionamento da BNDES Gabriel Aidar, tratando sobre como conseguir financiamentos de bens de capital através de agências de fomento internacionais e também pelo BNDES.

Trocolli falou que para máquinas fora do Brasil há diferentes opções de investimento, como banco comercial, agência de desenvolvimento e importação por Trade Company. Nos bancos comerciais privados, você pode contar com financiamentos que podem ser tanto em reais como outra moeda, se for um investimento nacional ou internacional. No caso de países da Europa, é possível conseguir financiamento em dólar, ou seja, há uma flexibilidade.

E as agências de fomento, o que elas são? Muitas pessoas acham que elas são as financiadoras, e isso não é verdade. Como funciona? A agência de fomento avalisa o banco comercial, que normalmente está no país de origem, e esse aval tem relação com o governo daquele país.

Quando a empresa brasileira faz um pedido em uma agência como essa, a agência de fomento fala com o banco cadastrado na base de dados e avisa que você quer exportar para o Brasil tal equipamento para a sua fábrica. Quem faz o financiamento é o banco comercial após analisar, não é a agência que faz o financiamento.

Miguel explicou como funciona o financiamento em uma agência de fomento, dando detalhes de custo e formas de pagamento, um material rico para entender como conseguir modernizar seu parque de impressão. O diretor da ABFLEXO fez questão de ressaltar que é preciso desmistificar o medo de fazer o financiamento e que essa agências são especializadas e prontas para dar todo o suporte.

Outra modalidade é de importação através de trade company. E como funciona? São 3 elementos: banco, trade company e cliente. É como se o banco estivesse dando uma ordem para a trading: importa o equipamento x para o meu cliente.

A trading faz a importação em nome dela, traz para o Brasil, paga todos os impostos e normalmente ela tem vantagem porque usa portos com redução de itens como ICMS, assim a importação sai mais barata para eles. Parte desse desconto eles costumam repassar ao cliente.

O executivo acredita que os próximos dois anos serão os dois anos mais fáceis para conseguir financiamento no exterior. E o que é necessário para conseguir o financiamento? É preciso documento básico para pleito de financiamento nas agências, como contrato social com última alteração, 3 últimos balanços com respectivo DRE, balanço geral dos últimos 6 meses e dados do banco nacional com qual você trabalha (nome, agência, pessoa de contato, e-mail). E depois eles vão pedir imagens e alguns dados de sua empresa.

Ao acertar estes documentos vai para a fase de aprovação. E se tiver alguma pendência eles retornam para que você possa acertar. Miguel reforça, inclusive, que atualmente nessas agências há profissionais que falam e escrevem português, ajudando o empresário que deseja fazer o financiamento.

Investimentos nacionais

Gabriel Aidar, gerente de relacionamento do BNDES, explicou inicialmente como é o BNDES Digital e como está chegando nas micro e pequenas empresas em 2020. Cerca de 26,4% dos desembolsos do BNDES foram destinados a elas. Ou seja, o banco também está indo a esse varejo de ajudar em financiamentos nacionais para as empresas brasileiras. Para os NCMs da área gráfica, foram aprovados R$ 116 milhões desde 2019, especialmente para máquinas.

O apoio do BNDES tem duas formas: a primeira é atuação direta para grandes operações, com financiamento acima de R$ 20 milhões e faturamento acima de R$ 80 milhões. Esse processo vai para habilitar a empresa, análise, aprovação do crédito após apresentação do projeto e assim contratação e depois o acompanhamento do investimento.

No BNDES Digital, a operação é indireta, trabalhando com rede de mais de 50 agentes financeiros credenciados no BNDES. Praticamente todos os bancos comerciais, públicos e privados, de diferentes tamanhos, assim como bancos de desenvolvimento regionais, agências de fomento, cooperativas de crédito e os bancos de cooperativa fazem parte destes agentes.

E como funciona? O interessado vai ao banco parceiro, que fará o pedido ao BNDES. Todo esse caminho entre banco e BNDES é virtual. Quando o cliente apresenta o pedido e é aprovado pelo banco parceiro, a solicitação do BNDES é quase em tempo real. E BNDES também oferece garantias ao banco, que muitas vezes dá um alívio ao cliente.

E como o cliente acessa o BNDES? A primeira sugestão é buscar seu banco, onde você já faz negociações regulares. Depois faça a negociação vendo taxas, prazos, valores, garantias e outros detalhes. Assim, o banco enviará a proposta para validação do BNDES, que fará a validação online basicamente em tempo real, liberando o recurso, que será repassado através do banco de relacionamento.

Nas linhas de crédito, há o cartão BNDES. Ao emiti-lo, você tem acesso a centenas de milhares de produtos que estão credenciados no site e disponíveis para compra e venda. Você não paga a fatura completa dele, a partir deste item que você adquiriu você paga em 48 prestações fixas.

No BNDES Automático, pode-se financiar gasto corrente da empresa, inclusive investimento por ter prazo interessante. Faz solicitação como capital de giro e usa conforme necessidade. Tem limite de até R$ 10 milhões por ano para empresas que faturam até R$ 90 milhões por ano. Podem ser financiados pagamento de aluguel, funcionários, impostos, dívidas e outros gastos de capital de giro, assim como investimentos. O prazo é de até cinco anos com carência de até 2 anos.

Já o Finame é o financiamento para máquinas e equipamentos, o mais famoso dos financiamentos. Ele se aplica a empresas de todos os setores. Serve também para componentes e bens de informática, bens industrializados e capital de giro (este associado a até 30% do financiamento). Há inclusive linhas específicas como equipamentos de baixo carbono, materiais industrializados e máquinas 4.0.

Na principal linha do Finame para máquinas e equipamentos, aberta a todos os portes de clientes sem restrição de acesso, o prazo é até 10 anos, com carência de até 2 anos normalmente. Pode ser financiado até 100% da operação. E ainda pode-se ter capital de giro associado de até 30% do valor total financiado como instalação e estrutura elétrica para o equipamento.

E ainda o crédito de serviços 4.0 para quem deseja se conectar, fazer gestão na nuvem, ou seja, estar ao lado do mundo 4.0. Há para empresas de todos os portes, um apoio do BNDES com boas condições e limite de até R$ 5 milhões.

Workflow

Erik Feruglio falou da relevância do pensamento no workflow. E logo de início questionou: qual palavra-chave você associa a workflow? Pensando em tradução seria fluxo de trabalho, mas muitos relacionaram com desempenho, qualidade, redução de erros, inovação, economia, processos em linha e outros termos. A mais falada foi automatização.

Antes de falar do workflow, é preciso pensar nas principais características da produção de um impresso e seus processos (do projeto ao transporte), assim como as particularidades de cada impresso ou embalagem (texto, itens de regulação) e os players envolvidos (no caso da embalagem, por exemplo: agência, dono de marca, clicheria, convertedora). Os sistemas de workflow buscam resolver as dores de cabeça dentro de todo esse processo.

Erik falou que hoje o “time to market” é essencial: o produto que chega mais rápido à prateleira vai vender mais. E quando a pessoa adquire um produto e gosta, demora a usar outro. Então a ideia da embalagem, seu projeto e criação são fundamentais. Ela precisa ter qualidade, então a pré-impressão tem seu papel para evitar erros. Na impressão, é hora de colocar à prova tudo que foi planejado, assim como no acabamento e na inspeção de qualidade.

O especialista mostrou que hoje a tecnologia é aliada de cada etapa. Na parte de estrutura da embalagem ou até mesmo de produtos para PDV, há soluções que te ajudam a montar o item da forma como você quiser. É possível não só ver a estrutura em 3D, como verificar como fica a impressão, fazendo todos os testes.

A tecnologia é enorme e é possível usar óculos de realidade virtual e “entrar em um supermercado”, podendo até pegar as embalagens e comparar. Isto existe inclusive no Brasil em diversas empresas. Então as gráficas e convertedoras precisam ficar atentas e investir em sistemas que colaborem na produção do impresso.

O objetivo é conectar cada pilar da vida do impresso. É ter arquivos em formatos que podem ir diretamente para a impressão mais rápida e eficiente. A área de flexo é um exemplo: os players uniram suas dificuldades e foram buscando soluções, unindo grandes bancos de dados em softwares. Ter informação, ligar processos e explorar o máximo de cada pilar vai trazer grandes resultados.

Todo esse pensamento é focado em produtividade e redução de custos e desperdícios. As análises desses processos vêm também para atender os desafios das variações de produtos, cada vez maiores, o que leva a mais trocas de trabalho. São muitas informações e não pode ocorrer falhas, é preciso gerenciar a informação, porque não adianta apenas ter dados, é preciso entendê-los e gerencia-los. E, após utilizar, deixar as informações atualizadas em relatórios.

Hoje o workflow permite que você tenha um portal para cada cliente, que com login e senha ele faça o upload de uma imagem preenchendo todos os dados de uma ordem de serviço digital. Ela automaticamente entra no servidor, o próprio fluxo vai, após aprovar a arte, converter, montar estrutura de pastas e começar os processos. Pode-se passar o 3D da embalagem para o cliente dar o ok, fazer a repetição, converter para gama expandida se for o caso, inserir características específicas, tudo digital, tudo interativo.

50 anos do Senai

Elcio de Sousa, diretor da Faculdade e Escola Senai Theobaldo de Nigris e Senai Barueri, destacou os 50 anos do Senai Theobaldo de Nigris. Ele contou do início de tudo, em 1945, na primeira escola de artes gráficas no bairro Belém. Em 1951, foi vista a necessidade de ter uma outra escola, que foi construída no bairro do Cambuci, outro tradicional reduto da indústria gráfica.

Em 1962, a escola passou a se chamar Escola Senai Felicio Lanzara, homenageando o importante líder do setor. Eram cursos de aprendizagem industrial. Nessa época, a demanda seguiu aumentando, pois o mercado gráfico crescia 6,5% ao ano.

Era preciso, então, uma escola técnica. Foi então que surgiu o Colégio de Artes Gráficas. Em dezembro de 1970, o Senai firmou termo de colaboração com a ACIMGA (Associação Italiana de Construtores de Máquinas Gráficas e Afins) da Itália.

Em março de 1971, chegaram ao Brasil seis técnicos italianos, que iniciaram ministrando aulas de desenho aplicado a artes gráficas, tecnologia e máquinas gráficas. Mas era preciso também uma formação técnica de especialista em segmentos como fotomecânica, tipografia, offset, rotogravura, acabamento e produção visual gráfica.

Em 8 de novembro de 1971, foi a inauguração oficial do Colégio Industrial de Artes Gráficas, e quem inaugurou foi Theobolado De Nigris, presidente do conselho regional do Senai, Fiesp e Conlatingraf, que depois deu nome à escola.

Nesta inauguração, houve a 1ª Semana Tecnológica de Artes Gráficas (STAG), inclusive em parceria com a ABTG. Um detalhe é que uma das primeiras temáticas foi o futuro da mídia impressa, algo debatido até hoje. Elcio mostrou imagens das primeiras estruturas e tecnologias da escola, e ressaltou as grandes reformas nos últimos 10 anos para dar todo o conforto e capacidade a alunos e professores.

Atualmente, já como Escola e Faculdade Senai Theoblado De Nigris, há um portfólio completo passando por curso de aprendizagem industrial com auxiliar de produção gráfica, cursos técnicos nas áreas de celulose e papel, processos gráficos e design gráfico; diversas opções de cursos de curta duração, projetos de cursos móveis com a carreta do Senai, além da formação na faculdade e diversas opções em pós-graduação. E mais cursos devem chegar, como desenvolvimento de sistema voltado para indústria gráfica.

Elcio ressaltou a estrutura atual das salas de aula, adaptadas aos tempos atuais, as áreas de pré-impressão, a parte de impressão offset, flexográfica, rotogravura e digital, além dos setores de simuladores de impressão, setor de restauração, e laboratórios de celulose, papel e tinta. O Senai hoje possui uma estrutura completa, inclusive com o suporte de fornecedores do setor que possuem salas tanto no Senai Theobaldo como no Senai Barueri com seus equipamentos, que servem para aprendizado dos alunos, testes das equipes e para as próprias empresas falarem com os clientes.

Você pode conferir tudo sobre o Senai em: https://grafica.sp.senai.br/

Mesa redonda sobre o futuro da comunicação gráfica

Para encerrar o 5º Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica, aconteceu um debate sobre o panorama atual da indústria com Alexandre Keese, mediador do dia e diretor da APS Eventos Corporativos, além dos professores e especialistas de renome com grande história na indústria gráfica: Élcio de Sousa, Bruno Cialone e Bruno Mortara.

Élcio começou falando sobre as transformações da indústria: “O que eu vejo é que a melhor palavra é integração. Mídias eletrônicas e mídias impressas já estão integradas e estarão cada vez mais. Isso estará em nossa cadeia produtiva. Até nas embalagens nós já vimos a criação de estruturas de embalagens interativas. Sempre teremos uma solução preparada para cada caso. Estamos no Senai preparados para trabalhar esses dois mundos em conjunto”.

Bruno Mortara insere mais itens neste panorama: “Dois elementos são bem importantes: o primeiro é sustentabilidade. Não é só implementar boas práticas ou tentar economia circular na medida do possível, é atender de fato esse desafio. A outra é a concentração de renda: há um fenômeno que é a extrema velocidade da digitalização na vida humana. Então quem tiver comportamento ético e responsável em relação ao planeta vai permanecer por mais tempo na transformação dessa indústria”.

Bruno Cialone pondera: “Qual indústria está procurando este futuro? A indústria gráfica tem empresas pequenas. Falar de tecnologia é maravilhoso, mas quantos podem ter acesso? E a tecnologia é a ponta do iceberg. A máquina pode acabar sendo o gargalo da empresa, e por quê? Porque ela reproduz rápido e com qualidade, mas o resto se adaptou a tecnologia? A entrada, parte de orçamento, também é rápida como a máquina? A pré-impressão se preparou para fazer tanta chapa como a máquina pode rodar? O acabamento também está estruturado? É preciso ter estrutura e pessoas”.

Alexandre Keese concordou com o ponto: “É preciso entender o que a máquina pode fazer, em qual mercado pode atuar, checar o gerenciamento interno, ver a parte de vendas, entender como será o pré e pós. Foi o caso da Camargo Embalagens, case apresentando no Congresso, que precisou se reposicionar”. Bruno Mortara adiciona: “Vivemos um momento cheio de possíveis contradições. Nós precisamos ter pessoas que retirem o máximo do equipamento. E temos muita automação chegando. Então é difícil aos empresários se posicionarem de uma forma inequívoca”.

Elcio lembra que o pensamento do empresário nem sempre é o ideal: “Na drupa, empresário me perguntava: máquina A ou B? Mas se a sua máquina atual não roda 100% do tempo, não adianta uma nova. E muito menos comprar máquina que o concorrente comprou. É preciso entender o próprio fluxo produtivo para saber o seu custo e assim tomar decisões de modificações. Em consultorias, aumentamos 30% de eficiência em coisas simples, em fluxo, até posicionamento de máquina no parque gráfico. Setores distantes do outro, mas que são complementares. Muitos problemas precisam ser resolvidos na base e não em tecnologias de última geração”.

É o que pensa Alexandre Keese, que destacou que a tecnologia requer inteligência: “Ela automatiza processo, mas sem conceito produtivo você cai na ineficiência. O empresário que não fizer essa reflexão, esse ajuste fino, vai passar cada vez mais aperto”. Mortara concorda e frisa que se a sua OEE (eficiência operacional) estiver entre 20 e 30%, é inútil comprar um novo equipamento, é preciso otimizar se utilizando de sua estrutura primeiro, para aí sim buscar nova produtividade.

Bruno Cialone ressalta: “As empresas deviam fazer uma “ressonância magnética” da própria empresa: quem sou eu? O que eu quero? Em que mercado atuo? Por que eu auto nesse mercado? Se for em outro mercado, quem estará no outro mercado? Tenho possiblidade de entrar nesse mercado, tenho formação de operadores? Qual o meu futuro? E depois de tudo isso entender o posicionamento”.

Para Élcio, falta comunicação e integração interna: “É preciso ouvir melhor, ver o que pode ser melhorado. O diálogo dentro das equipes é muito difícil, investe-se muito em equipamento e pouco em pessoa. E mais do que parte técnica, vivência, algo interno. Sentar todos e trocar informações. Nosso mercado não tem mais espaço para só comprar a máquina e jogar no parque gráfico. Tem muita eficiência a ser melhorada nas rotinas diárias”.