As transformações trazidas pela impressão digital e Indústria 4.0 foram pauta do primeiro dia do Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica, que em sua quinta edição está ocorrendo na plataforma virtual APS Now. O evento promovido em parceria ABTG (Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica) e APS Eventos Corporativos recebeu especialistas do Brasil e do exterior em sua abertura.

A terça-feira teve como mestre de cerimônias Carlos Suriani, presidente da ABTG, destacando a importância da temática do evento e o relevante suporte dos Patrocinadores e Apoiadores da iniciativa.

Fabio Gabriel, presidente do Conselho da ABTG, falou no congresso e ressaltou que muitos profissionais aproveitaram para buscar atualizações e acompanhar as tecnologias que ocorreram ao redor do mundo. A ABTG buscou fazer com que todos tivessem esse contato e atualização da nova tecnologia.

Fabio ressaltou que quase quatro mil profissionais participaram das iniciativas da ABTG, que nunca conseguiu treinar tanta gente em um espaço de tempo tão curto, e também com diferentes posições dentro das empresas buscando esta atualização profissional.

Indústria 4.0

Jorge Maldonado, diretor da Afeigraf e da feira ExpoPrint & ConverExpo Latin America 2022, ministrou a primeira palestra do Congresso sobre a Indústria 4.0. Ressaltou que a pandemia trouxe incertezas e necessidades de renovação, e é normal que assumir um novo padrão tecnológico pode trazer angústia.

A Indústria 4.0 traz muitas mudanças para uma empresa, seja ela de impressão ou não. Entre as mudanças, estão a redução de custos produtivos, tempo de entrega mais rápido, aumento da produtividade e da qualidade, e mais apego às questões de sustentabilidade.

Normalmente, nas organizações, é possível atingir melhoria destes parâmetros ao adaptar práticas administrativas mais eficientes, mas quando coloca-se o recurso tecnológico, é possível potencializar estes aspectos. É o caso de custos, pois com a Indústria 4.0, é possível diminuição de custo de produção e logística de 10 a 30%.

A Indústria 4.0, assim, é a integração dos sistemas físicos e virtuais nos processos produtivos, com um conjunto de tecnologias de ponta ligadas à internet, com a finalidade de tornar os sistemas produtivos mais colaborativos e flexíveis.

Maldonado passou pelos pilares da Indústria 4.0, como Internet das Coisas, integração vertical e horizontal, manufatura aditiva, realidade aumentada, segurança cibernética, Big Data e outros pontos. Cada um terá seu impacto nas empresas do presente e do futuro, e é preciso entender estes conceitos para estar preparado para mudar métodos e projetos. Isso irá impactar não só as grandes companhias como também as menores.

O que se vê é a Indústria 4.0 oferecendo a integração definitiva dos processos, unindo automação e ainda coleta, análise e revisão de dados. E os dados sendo acessados remotamente através da nuvem.

Um obstáculo para implantação pode ser a falta de conhecimento dos agentes envolvidos, pois apesar de existir muita informação, faltam profissionais capacitados para implementação. Com isso, é preciso antes fazer a lição de cada aprimorando as práticas para eliminar desperdício e reduzir o tempo de entrega.

Como foi dito, isso pode ser feito até antes de entrar na Indústria 4.0, ou seja, melhorar passo a passo. E a própria 4.0 não precisa ser implementada tudo de uma vez: é possível ir módulo a módulo, aos poucos.

Panorama da impressão digital

Fernando Bortolim é especialista em impressão digital e falou sobre o crescimento da tecnologia em diferentes setores, como a comunicação visual, que nos últimos 15 anos assumiu mais de 80% do mercado. Outro setores também têm migrado para a tecnologia para determinadas produções.

O têxtil é um destes mercados. A área de livros e publicações sob demanda também passou a atuar no digital, transformando o mercado de impressão alimentado por folha. Há ainda a área de papelão ondulado, cartuchos e até cerâmica e porcelanato.

E por que essa mudança ocorre? Pelas demandas do consumidor e pela disrupção trazida por digitalização e processos web. Hoje o consumidor quer tudo na hora, com mais agilidade. Os produtos precisam conversar com o cliente, o consumidor quando curte uma embalagem ele garante o sucesso do produto.

A área de embalagens e rótulos viu o crescimento do digital porque há hoje uma explosão de SKUs, com mais versões de cada produto, cada vez mais segmentados, seja por público, região e em apelos visuais. É uma necessidade do comprador de embalagem, que precisa dos pequenos lotes para segmentar, reduzir estoque ou para campanhas específicas.

Outro ponto que o digital colabora é que 98% do mercado nacional é formado por pequenas empresas, e muitas vezes a embalagem/rótulo é a única propaganda do produto. E as triagens serão pequenas, ou seja, ponto para o digital.

As gráficas precisarão se adaptar a essas tendências, porque as máquinas estão cada vez mais interativas e eficientes, e todo o gerenciamento e operação estará indicado por métricas. É preciso, assim, alcançar o fluxo digital de trabalho ideal - minimizar processos, tempo e desperdício para máxima produção e rentabilidade. Na gráfica moderna, o digital será uma solução para ampliar o serviço ao cliente e a oferta para agregar valor.

O digital existe como complemento do analógico otimizando a produção. Mesmo a impressão digital crescendo muito, ela ainda tem uma pequena fatia de mercado, com grande tendência de crescimento. E por que a fatia é pequena?

Existe uma mentalidade que a impressão digital é muito cara. Os investimentos e insumos são consideráveis, mas a análise da gráfica precisa ser mais ampla. O sistema convencional, mesmo o mais eficiente, acaba tendo determinados desperdícios, seja com tinta, substrato para fazer setup, matrizes de impressão, limpeza de máquina, armazenamento.

Muitas vezes difíceis de calcular, são custos ocultos. Com tiragens menores, os custos aparecem mais. A impressão digital permite a redução de estoque, o lote mais adequado, otimizar mão de obra, evitar erros. E não só redução de custo, mas redução de tempo - que acaba levando a queda de custos e maior lucratividade. Multiplica a eficiência e número de trabalhos feitos no mesmo dia.

O digital hoje alcança ótimos efeitos de impressão, cores vivas e naturais, fontes pequenas, detalhes, códigos de barra, QR Codes, além de atuar em impressão metalizada, com efeitos que combinam branco e policromia, sendo usada na área de alimentos, bebidas, cosméticos e muito mais, como uso de papéis texturizados, porosos, com alta durabilidade. E, claro, a questão dos dados variáveis, podendo colocar nome e foto personalizados dos consumidores.

Bortolim destacou características da impressão inkjet, a mais usada no digital, com capacidades de alta velocidade e reprodução de cores, além das possibilidades de acabamentos especiais para enobrecer o impresso. Ele lembrou de tecnologias como impressão híbrida, que une processos como flexo e digital, visando impressão e acabamento inline com capacidades que só o digital oferece, entre outras capacidades.

Impressão digital têxtil

Debbie McKeegan, embaixadora têxtil da FESPA, falou sobre o mundo da estamparia digital. Ela ressaltou que passou a vida no setor, começando como designer e trabalhando para várias empresas no Reino Unido e atendendo grandes clientes pela Europa.

A especialista atua desde o final dos anos 90 com impressão digital e conseguiu enxergar a evolução da tecnologia ao passar dos anos. E, agora, passamos por uma mudança sísmica, com tecnologias tradicionais que não conseguem mais atender as demandas atuais.

Debbie mostrou o tamanho do mercado. O setor têxtil global atingiu 1 trilhão de dólares em 2020, com previsão de crescer 4,4% ao ano de 2021 a 2028. Este crescimento enorme está na evolução da indústria da moda e do poder do e-commerce.

E o quanto disso é impresso? O mercado têxtil global de impressão espera alcançar 266,3 bilhões de dólares até 2025, com taxa de crescimento de 8,9%, ou seja, mais que o crescimento do têxtil. Com o têxtil mais veloz e necessidade de personalização, a impressão crescerá muito.

Agora, se pensarmos em impressão digital têxtil, ela facilitará a adoção de múltiplos designs, podendo mudar o design ao apertar de um botão. A flexibilidade de design e uso de imagens fotográficas também colabora não só com o mercado de moda como o de design de interiores.

Isso é apresentado pelo valor de 2,2 bilhões de dólares da impressão digital têxtil em 2019 e expectativa de crescer até 8,8 bilhões até 2027, com taxa anual de 19,1%, ou seja, nenhuma alcançou esse crescimento. E o que está puxando essa mudança? Entre as questões, estão:

- Tivemos um boom no e-commerce - e os consumidores seguiram no online. Veremos o crescimento de 10 anos da venda online em 6 meses. Era impossível ver o quão rápido isso aconteceria e mudaria toda a cadeia
- Para atender o e-commerce, você precisa ter design e diversidade de produtos. No e-commerce, você engaja de maneira regular. E há o uso de Inteligência Artificial para avaliar reação aos designs e saber qual design correto para o produto.
- É preciso colaboração mais profunda na cadeia de suprimento para controlar o fluxo de trabalho do produto - a proximidade de consumidor e fornecedor era necessária para garantir continuidade do processo.
- Fazer menos, entregar mais rápido e personalizar a compra, a experiência do comprador e também personalizar o produto.
- Muito importante olhar na impressão sob demanda.
- Consumidores vêm pensando de forma mais sustentável. Todos os clientes, e todos nós da indústria gráfica, estamos nos tornando mais conscientes sobre como fabricamos, produzimos, consumimos e usamos os produtos e qual o seu descarte final.

Debbie ressaltou que, sobre redução de desperdício, há muitos produtos têxteis que nunca serão usados e comprados - aí é que está o desperdício da indústria da moda. Esse lixo está sendo colocado em aterros. É preciso reavaliar toda a cadeia de suprimento. Algo que fica claro é que o sob demanda será o novo normal, para produzir exatamente o que o cliente quer, sem tentar adivinhar e acabar jogando coleções inteiras em aterros.

A necessidade de rapidez para atender esta produção sob demanda fez com que grandes marcas trouxessem de volta aos seus países suas fábricas para conseguir entregar no prazo e ter controle da própria cadeia de suprimento.

Em tecnologia, Debbie vê o uso de tecnologia digital sem uso de água da tinta pigmentada como a que seguirá crescendo como uma solução sustentável para a impressão têxtil, o que irá baratear os custos totais.

E como será o futuro? A especialista encerrou tratando que será predominantemente digital. Os tradicionais vão permanecer pois têm seus propósitos, mas conforme a tecnologia avança, os métodos tradicionais vão declinar conforme o tempo. O sob demanda será o novo normal e a mudança produtiva terá todos os olhos para processos realmente sustentáveis e sem desperdícios.

Impressão digital em embalagem flexível

Felipe Toledo, diretor da Camargo Embalagens, falou da trajetória da empresa com impressão digital em embalagens flexíveis, do sucesso mas também das barreiras e desafios. Lembrou que 99% das compras são influenciadas por embalagem, 80% dos consumidores que tocam a embalagem no PDV adquirem o produto. Como citado na segunda palestra do dia, muitas vezes a embalagem é a única propaganda do produto.

Toledo disse que a Camargo produz embalagem sob demanda, sem necessidade de lote mínimo. Tudo começou em 2015, adquirindo a primeira impressora HP 20000 na América Latina. Ele então focou na produção de embalagem flexível na impressão digital, aproveitando as vantagens de customizar em massa, personalização, múltiplos SKUs, alteração de última hora e outros pontos.

Felipe contou que logo em 2016 participou do case do Café Pelé, que produziu embalagens especiais de café com o “jornal do dia”, uma ação que também envolveu o Jornal O Estado de São Paulo, agência e supermercado. Esse foi um divisor de águas para a Camargo, ganhando prêmios nacionais e mundiais, mostrando o que a impressão digital pode fazer nas demandas não convencionais.

Porém, em 2017 e 2018, a Camargo alcançou grandes cases, mas teve um volume de vendas abaixo do esperado. Isso fez com que a companhia tivesse que pensar em uma reestruturação da área operacional, vendas e com investimento em acabamento. Ou seja, foi preciso começar do zero.

Em 2020, foi o momento de virar a chave, com times de operação e vendas dedicados para impressão digital, entrando no modelo de escala, com tiragens maiores, e consolidando o modelo de negócio. Houve assim um aumento enorme nas toneladas de produção - mais clientes, mais SKUs e 31 novos clientes só no 1S2021.

Pensando em sustentabilidade, a Camargo produziu o filme compostável stand up pouch. A embalagem volta à natureza e se biodegrada em até 180 dias em compostagem industrial ou doméstica. Parece plástico, mas não tem plástico na composição. Outra novidade é o PET reciclado - único poliéster com PCR (PET reciclado pós-consumo) aprovado pela Anvisa para contato direto com alimentos.