A impressão tem capacidades únicas que inspiram, encantam, educam e também colaboram com a acessibilidade. É o caso da impressão em braille, técnica utilizada para que pessoas com deficiência visual possam ter acesso à informação. O Brasil tem o orgulho de ter a maior gráfica braille da América Latina e uma das maiores do mundo, a Fundação Dorina.

A Fundação Dorina tem capacidade de produzir até 450 mil páginas por dia. É especialista na produção de livros didáticos e literários, além de cardápios, catálogos, cartões de visita, contas de consumo, entre outros produtos sob medida para cada perfil de cliente.

Desafios da impressão braille

Na impressão braille, primeiro ocorre o processo de impressão em chapas de alumínio para gerar os relevos. Essas chapas são alocadas nas impressoras e é a pressão delas contra o papel que faz com que os pontos braille surjam.

Carla De Maria, gerente da área Soluções em Acessibilidade, conta os desafios para a impressão braille: “Os maiores desafios estão relacionados as adaptações como um todo, mas as principais questões são as imagens, formato do material e conteúdos complexos, como fórmulas de matemática, por exemplo. É fundamental compreender que o braille normalmente ocupa três vezes mais espaço que o texto original, portanto o ideal é o projeto “nascer” acessível. Desta forma, conseguimos realizar menos ajustes e modificações nos conteúdos, acrescentamos menos páginas e conseguimos simplificar o processo, minimizamos os custos desta produção”.

A especialista explica que, para uma gráfica passar a oferecer a impressão em braille, não são necessários grandes investimentos e maquinário. “O investimento maior é em equipe qualificada para garantir que o processo que será feito atenda às necessidades reais da pessoa que vai utilizar esse material. Encontramos no mercado uma variedade enorme de materiais que não oferecem o básico, como a altura do ponto para leitura tátil ou que não seguem as normativas para a produção braille”.

Pensando em um panorama mais geral do braille atualmente, Carla considera que falta ainda investimento em novas tecnologias na área editorial, sistemas que automatizem algumas etapas do processo de transcrição, que hoje são manuais, “e geram um impacto considerável em tempo e custo de produção”.

Programa Leia para uma Criança

A Fundação Dorina Nowill para Cegos contribuiu com a acessibilidade de 2 mil coleções com livros acessíveis da 10ª edição do "Leia para uma Criança". A entidade contribui para que a iniciativa do Itaú Unibanco e Itaú Social seja acessível também para crianças e pais cegos ou com baixa visão através das versões impressas em braile e fonte ampliada em cor.

Em 2020, o "Leia para uma Criança" traz às pessoas com deficiência visual os títulos "Com que roupa irei para a festa do rei?", do autor Tino Freitas e da ilustradora Ionit Zilberman, e "A visita", de Antje Damm. No total, foram produzidas 2 mil coleções acessíveis, contendo exemplares destes dois títulos, folheto com dicas de leitura e folheto explicativo sobre como higienizar os livros após serem entregues em casa como medida protetora contra a Covid-19.

O material foi produzido em tinta, processo convencional de mercado gráfico, papel miolo couché brilho/fosco 120 g, capa em papel couché brilho/fosco 250 g. Carla dá detalhes sobre o processo: “Há variação entre brilho e fosco, pois optamos, sempre que possível, por manter características semelhantes ao livro original. Como a produção realizada englobava dois títulos, cada um deles foi realizado com um tipo de acabamento. Com relação à impressão braille, os livros foram editorados no Braille Fácil, programa específico para a transcrição e impresso em impressoras Heidelberg. A impressão neste tipo de processo ocorre primeiro em chapas de alumínio, onde geramos os relevos. Essas chapas são alocadas nas impressoras e é a pressão delas contra o papel que faz com que os pontos braille surjam”.

O Brasil e a questão da deficiência visual

Carla De Maria traz informações e dados muito relevantes sobre o tema: “Quando pensamos na deficiência visual imediatamente associamos a pessoa cega ao braille, mas deixamos aqui dados importantes para ampliarmos esses conceitos”:

- Só no Brasil existem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual de acordo com o Censo IBGE 2010. Destas, 6 milhões são baixa visão ou visão subnormal. E o que seria isso?

"Uma pessoa com Baixa Visão é aquela que possui um comprometimento de seu funcionamento visual, mesmo após tratamento e/ou correção de erros refracionais comuns e tem uma acuidade visual inferior a 20/60 (6/18, 0.3) até percepção de luz ou campo visual inferior a 10 graus do seu ponto de fixação, mas que utiliza ou é potencialmente capaz de utilizar a visão para planejamento e execução de uma tarefa".

Realizada esta distinção, explica Carla, há um número que demonstra que cerca de 500 mil de fato são cegos, e destes, a minoria faz uso do sistema Braille. “Os fatores são inúmeros, mas um deles é que a maioria das pessoas que perderam a visão passa por esse processo já na fase jovem/adulta, o que dificulta o aprendizado em Braille, pois este depende da sensibilização do tato para a percepção dos pontos (desenvolvimento que ocorre de forma mais orgânica durante os primeiros anos de vida, associado à fase de alfabetização da criança) e acabam utilizando recursos em áudio ou digitais”, conta.

Além disso, há pouca disponibilidade de livros transcritos para este sistema. A profissional da Fundação Dorina explica que, segundo a União Mundial de Cegos - que representa aproximadamente 253 milhões de pessoas com deficiência visual de organizações alocadas em mais de 190 países, cerca de 5% das obras literárias no mundo são transcritas para braille. Isso nos países desenvolvidos.

Nos países mais pobres, essa porcentagem é 1%, de acordo com a Agência Brasil. “Dito isto, a Fundação Dorina Nowill para Cegos tem orgulho de participar de uma grande conquista para o Brasil, que é a produção de livros em formatos acessíveis para Programa Nacional do Livro e do Material Didático, o alcance dos materiais é em nível nacional, disponibilizando livros digitais em epub acessível e livros em tinta e braille, ou seja, estes estarão transcritos tanto em braille quanto em tinta, facilitando que pais, responsáveis e até mesmo professores que não dominam o sistema possam ler”, finaliza Carla de Maria.

 

Fotos: Estúdio Fotográfico Ora Bolas