O segundo dia do Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica uniu tecnologia e sustentabilidade. Com mediação do professor Bruno Mortara, diretor técnico da ABTG, o evento começou com Elodie Ternaux, especialista global em sustentabilidade. Ela faz parte de um coletivo de mulheres que acompanham marcas em suas jornadas de sustentabilidade e reforçou que a economia circular precisa ir além do discurso e se basear em ações concretas.

Uma pesquisa mostrou que 48,8% das pessoas entre 18-35 anos colocam a mudança climática e destruição da natureza como a coisa mais séria afetando o mundo hoje. E 90% de nós estamos dispostos a mudar o comportamento, mas só 3% sabem que ações tomar. É uma oportunidade para as marcas darem uma orientação.

Há uma equação “pessoa, planeta e lucro” quando falamos das questões ambientais e sustentabilidade. Muitas empresas estão buscando a redução da pegada de carbono de até 30% até 2030. Parece muito, mas acaba sendo apenas cerca de 3% ao ano.

Se todos os agentes da cadeia forem envolvidos, do produto ao consumidor a quem for reaproveitar o material, é possível elevar essa redução, talvez até 60% em 10 anos. E muitos estão dispostos a pagar mais por produtos mais sustentáveis.

Hoje, 8% da nossa economia é circular e esse número já foi 9,1% no ano passado. O objetivo da economia circular é não chegar na parte do descarte. Precisamos mudar o atual ciclo de vida. A reciclagem precisa entrar no início da cadeia de transformação e não apenas no final.

E depois de decidir mudar, como sei que estou fazendo a coisa certa e como avaliar se estou mais sustentável? Elodie citou formas, como avaliar o peso dos projetos que você está fazendo; se há uma mudança de classe de materiais, é preciso ver o impacto de cada um. Uma avaliação é ver a pegada de carbono, o uso de CO2.

Outro exemplo de monoindicador é o uso de água. A especialista citou que pensando em todo o processo produtivo, uma pizza marguerita usa 793 litros de água até chegar na sua mesa, pensando no processo de produção de todos os ingredientes.

Já no caso do multi-indicador, é feita a análise do ciclo de vida, uma avaliação realmente completa. Vê todos os indicadores, não só a pegada de carbono. Analisa quanta água usa, questões de saúde humana, ecossistema, um amplo panorama da produção.

Elodie deu uma série de exemplos fantásticos de novidades buscando uma visão mais sustentável para uso, reuso e reciclagem. São garrafas e outros materiais diferenciados e com mais de uma capacidade, eliminando desperdícios. Em muitos casos, é pensar em outros fins para os materiais, como por exemplo seu uso para a compostagem.

A especialista também citou outras formas de colaborar como o meio ambiente. Um exemplo é o aluguel de peças de roupas que serão usadas uma vez, ou até mesmo o compartilhamento de veículo com outras pessoas. Assim, é preciso que cada um faça a sua parte para um mundo mais verde.

Embalagem e Meio Ambiente

O Congresso recebeu mais um convidado internacional, o especialista em embalagem Arthur Erdem, que também falou do desafio de medir a circularidade dos produtos. Essas métricas conseguem nos dar ideias de como vamos trabalhar a economia circular e colocar a serviço da sustentabilidade. Mas não pode-se apenas focar a extensão da reciclagem, é preciso olhar para a circularidade, que pode ter significados diferentes para cada empresa.

Erdem disse que encontrou 114 definições distintas para economia circular, mostrando que há visões diferentes para cada empresa. Muitos não percebem a necessidade de uma mudança sistêmica.

Não podemos focar em apenas um impacto ambiental pois há uma série de impactos e é preciso olhar a todos. Se queremos ser mais sustentáveis, precisamos olhar o panorama completo. E quando o impacto ocorre? Um exemplo é quando tentamos olhar a sustentabilidade e fazer a coisa certa, mas não temos o nível de conhecimento necessário.

Muitas vezes pensamos nos materiais recicláveis, mas nem sempre isso é suficiente. Se eu não conheço o processo em sua totalidade e não posso analisá-lo, vou cometer erros ao fazer a transição sustentável, pois não terei a visão geral. Isso causa diversos problemas.

O especialista falou do papel reciclado, ressaltando que nem todo papel reciclado é amigo do meio ambiente. É preciso olhar diversos pontos, como a forma de produção, a integração com os processos e a energia gasta. Foi mostrado como é importante que a reciclagem esteja integrada no processo produtivo.

Arthur mostrou as questões de papel revestido e não revestido e seus impactos no meio ambiente, em conjunto com as questões das tintas e vernizes utilizados nos materiais. Em alguns casos, a reciclagem do papel não revestido acaba consumindo mais material e energia para ele voltar a sua origem.

Impressão híbrida

John Vigna, Gerente de Vendas da América Latina da Mark Andy, tratou da evolução da tecnologia de impressão híbrida. Ele começou falando da trajetória da Mark Andy no mercado de conversão de embalagens e rótulos, tanto banda estreita como digital, até a chegada da impressão digital híbrida.

A impressão híbrida, diz Vigna, é altamente configurável e vem de diferentes formas e tamanho, tendo as mesmas configurações de linhas de conversão flexo, como corte, laminação e outros processos, além da impressão digital.

Hoje, há fortes tendências no mercado que a híbrida consegue atender, como os múltiplos SKUs. Vigna deu o exemplo do salgadinho Doritos. Antes, era apenas um sabor, hoje há uma infinidade. A quantidade da tiragem dos pedidos diminui a cada dia, ou seja, é preciso repensar os modelos tradicionais.

Com o alto nível de qualidade atual em todos os convertedores, é preciso ter um diferencial que se destaque. Um aspecto essencial é tempo de entrega - e a tecnologia digital é essencial para esta entrega. Isso além das características de diferenciação da embalagem, como citado.

Por que um dono de marca mudaria de fornecedor de rótulo? O primeiro ponto, claro, é a qualidade da impressão. O segundo é entrega. Depois o atendimento; e, por fim, a capacidade de atender diferentes projetos. Ter os equipamentos corretos, então, é fundamental para não perder clientes.

No caso do próprio convertedor, todos querem entregar seus pedidos no prazo correto, com qualidade e, claro, lucratividade. A híbrida traz vantagens para atender estas metas, especialmente com a produção de passagem única, ganhando tempo e diminuindo desperdícios, com mais tempo de atividade da impressora.

As impressoras híbridas trazem a oportunidade de transitar mais trabalhos diretamente ao digital, tendo economia da preparação do trabalho ao usar menos chapas e ter uma produção pronta para atuar com mais agilidade - além da decoração inline, cortando transporte dentro da gráfica e equipamentos adicionais.

Vigna tratou do desperdício em um ambiente digital não híbrido, como superprodução - imprimir um pouco mais para garantir que o acabamento ficará correto. Isso impacta o inventário, com custos adicionais de material e armazenamento. Há o sobreprocessamento por conta de defeitos quando há mais variáveis no processo de impressão. A espera impacta quando há questões em processo prévio - transporte da impressão ao acabamento, gargalos, etc. Quanto mais movimento, maior a possibilidade de desperdício.

O especialista deu exemplo de atuações da impressão híbrida. O primeiro foi com múltiplos SKUs com corte comum. Pensando na flexo, ela terá dificuldade com as variações de SKU. Já na comparação com digital, seria preciso um segundo equipamento para acabamento.

Outro exemplo é um shrink sleeve para lata. Ela não é economicamente viável para flexo pela baixa tiragem, mas o digital tem dificuldade da impressão reversa e o branco por último, normalmente com alta opacidade ou cobertura pesada, algo proibitivo em custo usando só a tinta digital. E a híbrida consegue fazer a imagem digital e depois faz a aplicação do branco com a flexo no final do processo.

Um terceiro exemplo é o uso de muitas cores especiais e branco. Na comparação com flexo, há economia de chapa e preparação. E na comparação com o digital, usa menos tinta digital e pode usar as cores mais exatas com menor custo.

Novos modelos de negócio do analógico para o digital

O segundo dia do Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica 2021 foi fechado por María Eugênia Arn, CEO do Grupo Fogra, que falou da migração da tecnologia analógica para a digital e deu dicas valiosas para o profissional de impressão encarar os dias atuais.

Arn lembra que o mercado de hoje tem tendência de volumes mais baixos, com migração de estratégias do analógico ao digital para atender pequenos projetos, personalizados e com alto valor agregado.

Este movimento traz uma necessidade de adaptar uma estratégia de diferenciação de nossa oferta - e nossas equipes muitas vezes não estão adaptadas às novas tecnologias e mudança de ritmo produtivo. E um grande problema é a resistência à mudança, a inércia e apego a tradições.

E como podemos nos transformar e não morrer tentando? María Eugênia falou de medidas que foram tomadas pelo Grupo Fogra. Uma visão foi ter diferentes tecnologias e capacidades, produzindo muito volume para toda a América Latina.

Porém, com o passar dos anos, os volumes começaram a retroceder. Um caminho foi se especializar em livros artísticos e depois ir abrindo a carteira de opções. É preciso ser um grande aliado dos clientes, diz Arn. Também é preciso pensar fora da caixa, não ter medo de errar e aceitar as incertezas - mudança é a nova constante.

Esta parceria com o cliente é ir além de vender o produto, é vender uma solução gerada sob medida. Muitas vezes o problema é uma questão de tempo, ou uma questão logística. É buscar resolver o problema, ser um parceiro para levar o cliente ao sucesso. Assim, cria-se um relacionamento cooperativo com todos alcançando resultados positivos.

Para tudo funcionar, é preciso expandir horizontes. María Eugênia relatou, por exemplo, que o Grupo Fogra faz os livros de artes no México. Em um projeto, foram feitas roupas e fantasias de papel, telas, interatividade, máscaras 3D com papel, o que gerou aumento na venda de livros.

Na Fogra, há uma equipe de trabalho dedicada a desenvolvimento e inovação, tendo espaço, recurso e tempo para que haja dedicação a usar tecnologia e acabamento para que, quando for preciso criar algo novo, estejamos preparados. Arn ressaltou exatamente a questão do novo, da importância de se adaptar às mudanças e entender as demandas, necessidades e estilo das novas gerações.

Na parte da sustentabilidade, temos que ir além de dizer que imprimir é bom, é forçar que os equipamentos e insumos sejam mais sustentáveis, buscar processos amigos do meio ambiente e produtos que permaneçam na vida do cliente por mais tempo, que sejam reutilizáveis. Não é uma moda passageira, é algo que tem que ser incorporado às linhas de negócio e ao nosso pensamento.

Arn finalizou mostrando números da transformação do Grupo Fogra entre 2017 e 2021, passando o digital de 40 a 56%. Em 2019, após os primeiros esforços de diversificação, o faturamento cresceu 25% em relação a 2017.